Os dias eram divididos entre os momentos em que ele ligava ou que nos víamos e os próximos. Os intervalos entre um e outro eram espaços longos de tempo que eu tinha de preencher fazendo tudo mais que eu não estaria fazendo se ele estivesse comigo. Com ele era tudo tão leve; sem ele, tudo tão pesado. E o que mais me entristece é que esses intervalos "sem ele" às vezes me pediam para irremediavelmente adiá-lo. Adiar a única companhia que tem me feito genuíno bem nos últimos tempos. Estamos definhando nos braços um do outro e nos amparando e acolhendo os cacos. Velando o que resta um do outro do que o mundo consome, sem dó nem piedade - rumina, deglute, mas não digere. Nos vomita na cara nossos quimos e nós que nos cuidemos. Estávamos nos cuidando. Um do outro. Mas sempre com a cruel sensação de que queriam nos deter, nos separar, de que a qualquer momento iriam conseguir nos destruir de vez, um dos dois sucumbiria e tudo iria acabar. Mas não. Eu acreditei que a gente fosse forte, não importava o nome que dessem pra isso, não importava que tentassem consertar até mesmo a nossa força: no meu mundo uma lágrima de mãos dadas a outra secam juntas pra que dois sorrisos se abram. E era essa a nossa aliança - de amor é pouco e de sempre mais. Mas hoje você foi embora, sem mais nem menos, você disse tchau, pra não sei quando voltar, e eu fiquei aqui, sozinha, preenchida de intervalos "sem ele", socumbindo... sucumbindo... eu não sei se aguento, não. Não sei se quero essa distância, esse tempo, essa dificuldade toda - por aqui não há nada que me erga. Também não sei se não quero, vai ver se eu disser não, desmorono de vez... Eu só queria mesmo dizer, amor, é que você vai fazer falta demais aqui, que o tempo vai passar arrastado, os dias vão ser longos, as noites mais ainda. E que eu não quero ter tempo suficiente pra aprender o que fazer do que eu sou sem você, então volta logo, pra abraçar o que ainda resta de mim. Porque ainda que seja ínfimo, é intenso e todo seu.
A Bebel me deixa com cara de pastel
Pastel de vento
Que é pra voar lá longe
Onde a tristeza nunca vai me alcançar.
*Pedro Antônio de Oliveira*