O tempo tem se arrastado por aqui. Sinto como se já fosse outubro e o calendário ainda transcreve abril. Queria eu a certeza de que o semestre de diferença indicasse maturidade, realização, a mais. Assalta-me, porém, o medo de que signifique vida, energia, a menos... cansaço, pressão, demais. Pior é o vislumbre de morte, afundando-me em alto mar - eu, que sinto já ter nadado um mar inteiro enquanto observo um horizonte que me mostra seis outros cercando qualquer vista de praia.
Já não há desespero nem impotência relativos a passado e futuro, mas ao próprio presente diante da mínima possibilidade de eu parar. Cansar-me, desistir de continuar buscando mudanças, rupturas. Pergunto-me se não é esta a mesma intensidade de turbulência que me paralisou um dia. Intensidade talvez, mas não a mesma qualidade. Esta turbulência - de ruptura -, ao contrário daquela, move-me... o que está vivo, de alguma maneira, move-se. É preciso mover-me, primordialmente em mim mesma, para que eu queira e consiga sustentar meu próprio voto de vida. E isso mesmo talvez implique num tempo pessoal que corre tão mais rápido, com muita energia e vitalidade, cansaço e pressão, que mal cabem no calendário.
Embora me incomode, há ainda isto que me faz produzir, escrever, e que, por-tanto, prezo - este perene mal-caber, este quase-transbordar, este movimento vida-morte mar afora. Mar afoga? Na turbulência há o profícuo que gera a dúvida, a maturidade e a realização que produzem o texto, a água que ingenuamente asfixia, abraça e/ou banha somente quem se dispõe ao risco.
Com a terna esperança de que nem sempre afoga quem se afunda, às vezes é preciso se aventurar ao mergulho, desligar-se do tempo ar-terra, quando tudo o que se pode viver verdadeiramente é o tempo do - desconhecido - alto mar. Agora é sempre tempo... preciso - e vou - mergulhar.
8 comentários:
E aquela detenta, presa nos seus objetivos, com todas as realizações marcadas para depois e os sonhos cheio de pressa.
Ela, na hora do almoço, não consegue comer. Só consegue ficar parada frente ao relógio velho perto do pátio, vendo o ponteiro se mexer cheio de pregüiça, só para que ela possa saber que sim, o tempo passa.
Atrás das grades ela olha o mundo, cheia de ansiedade.
encarnou a clarice em paixão segundo g.h. foi? tá massa!
Bom mergulho - e bom retorno.
lindo, Gabriela, não conhecia o seu espaço, cheguei aqui por acaso e adorei a sua escrita, parabéns!
beijos,
G.
Adorei, Gabi!
E o que mais tem na vida é corda bamba pra gente se virar ou tentar se segurar...
Sobre as águas, acho que elas já se misturaram a tantas lágrimas que nem sei direito o que dizer. Que a dor passe. É o que espero.
Um beijoooooooo. Obrigado pelo comentário!
Pedro Antônio
O tempo passa, pra quem passa o tempo no passatempo mais inútil da vida: o esperar algo acontecer.
Pra quem faz algo acontecer, o tempo não passa, é a vida que anda.
"...nem sempre afoga quem se afunda, às vezes é preciso se aventurar ao mergulho..."
perfeito!
Olá,
à deriva cheguei aqui. Gostei, lindo o teu cantinho, belos versos, escrita apurada.
Abraços,
apareça no acervo pop, serás bem vinda.
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