segunda-feira, 8 de novembro de 2010

DESFIBRILADOR

(a meu pedido, depois de algumas horas de desabafo)

Dez oito

Diferentemente do silêncio costumeiro, esse silencio blasé, inexpressivo, morto e mórbido, seu silêncio grita, constrange, é um silêncio, pra se dizer pouco, mal educado. Grite agora, outra vez, porque nessas horas as palavras faltam porque a gente só faz sentir e não faria sentido algum discorrer lividamente sobre algo tão não trivial, mesmo quando todos esperam pacientemente por isso.

Você se faz assim e eu aceito, sei muito pouco bem quem você é, mas você é deveras fascinante. Diz mais do que uma vez, sem falar tanto, que não jogar as pérolas aos porcos é pura convenção que a gente se entende muito bem enquanto dança e canta e faz poesia. Queria sinceramente que isso fosse tão poético quanto se possa ser, mas devo assumir que isso se trata de uma verdadeira verborréia. Nunca antes escrevi tão rápido, as palavras não deslizam, mas escorregam e se enlameiam por onde querem, sem eu saber muito bem o que dizer, como dizer e quando dizer.

Essas notas das quase onze sabiam muito bem entender o que se passou por aqueles instantes de segundos que na verdade eram mais do que horas. A revolta mais linda que se possa fazer, descobrir se sou sim vida, enquanto tento ser morte e que só adoeço a partir do ponto em que ser tão imiscuída assim em tudo que possa ser tudo junto e misturado, não diz respeito a esse ensaio sobre a loucura/lucidez que vivemos aqui e agora, em um contraste mais do que óbvio com a suposta falta de convenções que existe nesse outro lugar que não nos “diria” respeito.

Tudo se encaixa, só não faz-se melhor porque enquanto você dança e poetiza isso tudo, os outros olham torto e dizem apenas que não se faz verdade ali. Verdade se faz em qualquer lugar e em lugar nenhum, e a verdade de cada um não deveria aterrorizar e amedrontar tanto assim esse mundo que não é individual. Mas mesmo assim xingam e destratam, porque é mais fácil fazer assim do que se deixar ser quem é, e perceber que quem berra ali do lado é tão você quanto eu, quanto ela ou quanto você mesmo. Não deixe de desentender só porque o mais seguro é se fazer passar despercebido, e não se permita entender somente porque as equações mais lógicas talvez se aplicariam a alguém que não é assim tão exato.

Me abraça agora, me adula, porque enquanto eu simplesmente giro por todos os lados, rebato nas paredes e não pertenço a lugar nenhum, essa contenção suave me enaltece. Enquanto eu sou de todos e de ninguém, ser somente de alguém por alguns instantes que seja, de forma não aprisionadora me faz bem, me faz sorrir, até gargalhar, me faz perceber que eu sou sim vida e intenção. Por que enquanto eu choro esses baldes de lágrimas por fora, você só faz se inundar por dentro? Por que enquanto eu berro até a voz silenciar, sua voz interna é que se silencia depois de tanta batalha ignorada?

Se você falasse comigo por um instante que fosse, e olhasse nos meus olhos como se pode e deve olhar nos olhos de outra pessoa veria que eu sou todo mundo e sou ninguém, você não percebe? Eu tento ser alguém o tempo todo, como eu mesma sei que você faz, mas sendo ninguém eu sei muito bem quem não sou.

Se ao menos alguém souber que esse cuidar de nada vale. Não quero scripts, não quero destino nem texto nenhum pra me fazer quem eu precisaria ser. Mas será que alguém vai me escutar de verdade, vai ouvir e absorver tudo isso, se eu não fingir, nem que seja por um pouquinho de tempo, que a “lucidez” me guia e me instrui?

As palavras faltam justamente quando se pode sentir e viver, mas não conter e abarcar tudo que acontece agora, ontem ou amanhã, seja sempre ou seja nunca. As palavras sobram quando a gente não PRECISA realmente delas, entende? Quando o que acontece e se passa não é suficiente pra marcar de vez, de forma derradeira. Por isso que por mais que as palavras se embolem e se atropelem nesse instante, eu sei que depois desse segundo, elas vão faltar de forma irremediável, porque falar sobre você, esses vocês que habitam essas linhas e me habitam, seja por identificação e empatia profunda, seja por algo que beira o desprezo, é simplesmente sofrido e intenso demais.


Carolina Rodrigues Martins

Obrigada Carol, em satisfeita contenção, obrigada.

2 comentários:

Carol Martins disse...

Nem tenho palavras pra descrever o que você anda significando pra mim, Gabi. Acho que é outro daqueles casos em que o que acontece é suficiente pra marcar de vez, entende?
E eu que te agradeço pela confiança e pelo carinho, sempre.

;*

Rafael Humberto disse...

Parabéns as duas pela perfeita parceria!