A arte é constituída de filhos paridos para destinatários certeiros. Se não há destinatários, a arte fica gerando e nutrindo a si mesma, mas não nasce. Não acontece a maiêutica. Acho que foi disso que Clarice falava quando criou Macabéa, que morreu grávida de futuro - solidão, falta de destinatários. Feliz dela, que, ainda assim, conseguiu parir uma história. Feliz de mim, que ainda assim, vez ou outra, consigo parir bilhetes ou um parágrafo. Como o de Macabéa, o desejo de toda arte é o de ser estrela. E não há por que parir, se não existe ninguém olhando para o céu. Quem virou estrela foi Clarice - quem é estrela agora sou eu.
"Para que eu chore, é preciso que vós choreis também."
Nicola Boileau
"Só a arte permite a realização de tudo o que na realidade a vida recusa ao homem."
Goethe
2 comentários:
Pois é, Gabriela, a arte quer, mesmo, o outro, o encontro. Que a sua, pois, brilhe.
Valeu, Lívio. Idem.
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