(das cartas nunca entregues.)
No limite do paradoxo, é onde eu estou. A vida é mesmo bulímica, não é, querido?! Como é possível não devorar a existência com deslumbramento? E como é possível, depois de pensá-lo, não se culpar por fazê-lo? Eu não tenho a mínima idéia de como é possível ser eu. E não tenho idéia de como é possível não me ser.
Confesso que minha existência é vaidosa - cheia de ornamentos e maquiagens e saltos altos, sabe?! Então há dias em que o pacto com a mediocridade de viver é... menos dolorido, talvez, embora não menos desconcertante. Escrever é pura vaidade, menino, você já deve ter percebido. Mesmo quando tudo parece trágico e incômodo demais (e não que não seja), escrever é viver sob minha própria direção de arte; é um jeito bonito de suportar a idéia de que viver é também pura vaidade.
Já reparou como existir é impagável? É tão deslumbrante que tenho vontade de frear a caneta e nem escrever sobre isto, para não macular, porque escrever também fere a beleza do minimalismo. Há coisas que é melhor não tentar representar... mas olhe as borboletinhas desenhadas na página do caderno... tão lindas e eu nem gosto de borboletas, eu as imagino na minha pele e sinto arrepios - nada ameaçador, eu acho, mas arrepios. Os mesmos que sinto a respeito de viver.
Eu nunca havia dito isto a você, então leia com cuidado: eu me arrepio o dia todo, por existir, de um jeito que beira a exaustão. Até quando sinto sono, eu me arrepio. Às vezes penso que eu não deveria dormir, porque é tanta vida aí, que dormir soa herege. E, mesmo assim, ou talvez por isso mesmo, eu não aguente e durma tanto. Então acho que dormir é um jeito de preencher os buracos da alma... este vazio que fica entre existir e existir. Dormir é viver os buracos, e viver os buracos é um jeito de preenchê-los, você não acha? O mal de dormir é acordar. E, se não acordássemos, não teríamos por que dormir. E, se dormir faz parte de viver, é inescapável que também deixe buracos.
Percebe o terror e a paz que reinam aqui? É assim que tem sido, amor... dá vontade de chorar. Até escrever é tão existir, e tão maculador, que dá vontade de chorar. Penso que ser humano é estar aberto à possibilidade de fazer metalinguagem existencial. E esta beleza dói tanto, não é?!
No limite do paradoxo, é onde eu (não) sou. Você também se arrepia?
"Make the butterflies go away
Somewhere I can see 'em
Somewhere I can see 'em
Make the butterflies go away
In imagination
If they're supposed to be inside
And I'm supposed to feel this way
Make me a butterfly"
(Lisa Germano)
(Lisa Germano)
5 comentários:
Oi, eu vi a sua mensagem no orkut, tinha ido para a caixa de spam, veja só: um "pedido de socorro" ir para a caixa de spam :/ né chato?
Foi o que eu disse da outra vez: você já escreve, nem preciso mais de escrever :) Beijinhos!
Eu sou, cada dia mais, sua fã! \o/
Totalmente arrepiada.
Beijo
Pensamentos sobre o ser e sobre o escrever. Um e outro. Um é o outro - e vice-versa
Escrever come o ego.
Ah, se arrepiei.
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