Então eu calo tudo isto até que possa ser dito ou cantado. Calo até que suporte ser abraçado ou ferido. Calo por enquanto, enquanto calar (não) disser. Ou calo até que seja esquecido.
Porque toda a minha vida, até hoje, renderia alguns bons filmes, e nós seríamos justo o da sobrevivência, de longe o mais denso, íntegro, forte e – embora a olhos rasos não pareça – o mais racional. Talvez Woody Allen se atrevesse a fazer-nos parecer menos brutos, menos intensos, menos indecentes, menos confessionais.
Porque eu não me atrevo. Seja lá o que signifique amar, amei – todos os seus e os meus amores, em você, devorando-nos. E amo, com toda a fragilidade de que isso me veste; com a orgulhosa e feliz consciência de que somos e queremos sempre e muito mais do que somas de partes. E eu quero esta inteireza nossa, sem sugar, possuir ou domar.
Porque amo sua liberdade incerta, hesitante, angustiada, tímida, como amo a minha própria. Amo tudo o que você é, sem que precise ser tudo. Não precisa nada. Não precisa ser pra sempre, não precisa ser pra hoje. Que, mesmo em silêncio verborrágico, simplesmente seja o que puder ser.
Porque é. Na linha tênue entre a (in)sanidade suada e a inocência perdida. Novo, mágico, imprevisível e/ou visceral, é como pode. Sempre tão intangivelmente pornográfico, mesmo quando a realidade quer nos despir, tocar, prever, envelhecer, arrasar, desiludir.
Porque, não por necessidade ou promessa, mas por gentileza conquistada, é que tenho escolhido ficar por perto, para lhe oferecer e entregar água, roupa, comida e verdade, se e quando você indicar. Até que a inconveniência nos separe.
5 comentários:
Não sei dizer o porquê, mas este é um dos seus textos com os quais mais me encontrei...
Que legal, Will. Obrigada.
Mais um de uma série de textos ensimesmados por aqui. Você achou o tom para tais textos.
E se ha inconveniência há de separar, que a conveniência não seja a única a unir.
E haja inspiração, quanta coisa linda!
Tenho um selinho dedicado a ti. Passa lá pra buscar.
Uma semana ótima pra ti.
Beijo enorme! ;*
Vc escreve muito bem. Parabéns. Adoro Damien Rice também. :)
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