sexta-feira, 11 de junho de 2010

CRIA

- Você quer saber por que eu mato pessoas? Pra impor respeito.

- Como assim?

- Algumas pessoas só te respeitam por medo. E mato quando sinto vontade, quando quero forjar algum controle, ou impressão de controle, sobre alguém.

- Quem você pouparia?

- Pouparia, não. Eu poupo. Poupo quem me respeita sem sentir medo de mim, mesmo que discorde. E poupo quem não tem medo de morrer, eu é que não vou fazer esse favor a ninguém. Mato pra desfavorecer. E também me disponho a ser convencido de critérios diferentes e até contrários. Você, por exemplo, está na sua hora, o que você vai dizer pra me convencer de continuar vivendo ou de morrer?

- Eu não tenho medo de você, mas também não me importo em morrer ou viver. Acho até bom que você assuma o controle e decida por mim.

- Não, eu já disse que não faço favores. A sua dificuldade é decidir? Decida você sobre o que você quer e tente me convencer. Eu espero.

- Mas eu não tenho critério. Talvez até tenha, e o meu único critério é sentir até ficar insuportável, é só quando insuporto que consigo decidir. E agora tudo que eu sinto é medo, não de você, mas de decidir antes de insuportar.

- Insuportar o quê?

- A vida ou a morte. Ainda são suportáveis agora, mornas demais. Não desejo nenhuma das duas com a força que eu gostaria. Você já decidiu por si?

- Não. Nunca por mim. Meu limite é decidir pelos outros, quando eles acham que podem muito decidir por eles mesmos. Tome a arma, é sua. Decida você por mim, não me importa. Controles não existem.

- Só porque eu também sei decidir apenas pelos outros, é sempre menos difícil. Então, até que eu encontre alguém que se sinta bem em decidir por mim, isto é por puro respeito... a nós dois. - Alguém no corredor ouve o tiro e entra: "Meu Deus, ele está morto! O que é isso?" - Você quer saber por que eu mato pessoas?

8 comentários:

guilherme nunes disse...

hehehe dá vontade de fazer um curta :-P

Anônimo disse...

É isso que da quando deixamos o nosso destino na mão dos outros.

Ligue 0800-123456 para votar no final A

Ligue 0800-654321 para votar no final B

O nosso final, você decide.

Gabriela Maria disse...

Raul, mas o primeiro tbm nao perdoava quem não deixava. E aí? oO

Anônimo disse...

Isso, ele decidia o final dos outros, e deixou que decidissem o dele.

Pensando agora por esse lado, nada mais justo que isso.

Mas a questão é que, ninguém decidiu seu próprio final.

Gabriela Maria disse...

Será q ninguém decidiu o próprio final? Será q tem jeito d decidir sozinho?

Alexandre disse...

Eu também mato pessoas!!! Pessoas que em troca da minha atenção, só retribuiu com a solidão... Pessoas que pedem para entrar em minha vida, mas acabam me desafinando... Pessoas que sem mesmo conhecer, conseguem desperta-me essa vontade, por tentar matar os sonhos de quem não consigo matar...

Olha a sua volta!!!

Você está VIVA!!!

Não te matei, e sim ei de te proteger...

Agora se eu quero saber o porque matas??? Não, assim não poderei ser quem sou quando estou com você... Quero ser eu mesmo na totalidade, sem freios e sem medos...

Bjus
BH

Lívio disse...

Espiral fatal.

A Torre Mágica | Pedro Antônio de Oliveira disse...

Fantástico o texto!

E olha que há muitas formas de se matar uma pessoa ou, pelo menos, de feri-la bastante.

Amei.

Um beijooo, Gaby.

Pedro Antônio