quarta-feira, 28 de julho de 2010

DA CARTA

(À querida TT.)

Então ando transformando meu silêncio em companhia. O silêncio  das minhas tantas inquietações. E rezo a Deus para que não se transformem  mais em desespero, como acontecia há algum tempo. Não há mais desespero,  mas uma resignação de quem não tem nada a fazer senão abraçar os  próprios limites e os proprios buracos.

Sinto que estou num momento de me  acomodar em novo caminho, novas direções, novos movimentos. Um  momento que tem se arrastado por quase um ano, como um rio que acabou de  desaguar no mar, sem saber direito, mas tentando aprender, como  continuar, como misturar suas águas noutras sem perder-se de si. E vou seguindo assim mesmo, sem saber, que  isso é a unica coisa que realmente sei: andar no escuro, na corda bamba e farpada. Sem desespero, agora.

Às  vezes ainda me dôo e choro muito, um choro de lamento, baixinho, só meu. Um ato de materializar o que não consegue se fazer dito, de tanger a  solidão - molhando e secando. Na verdade, só a minha solidão tem sido  tão verdadeira e acolhedora comigo mesma. E, enquanto eu não conseguir  acolhê-la, fazê-la caber confortavel em mim, sinto que não vou conseguir  fazer-me caber confortável no mundo, na vida.

Há aqui algo de só meu, que o papel  (in)felizmente não vai levar, que você não vai receber. Algo com que chegou a  hora de eu conviver: a minha circunscrição, o limite do que sou eu e do que é  não-eu e eu nunca vou saber. O limite do que é você.

Obrigada por se fazer presente não-eu, dizível e/ou silenciável, você.

8 comentários:

Vivi disse...

... e se faz assim sua melhor amiga e pior inimiga em cada momento.

Me identifiquei muito com esse texto Gabi! Mas acho que num tou muito do meu lado como você parece estar do seu.

É estranho sentir assim...

Tácila Rubbo disse...

Sabe... tenho me sentido assim...
O silêncio passou de dor e vazio, à companhia. As vezes choro, baixinho também, tentando esconder as lágrimas até de mim mesma. Mas eu sei que isso passa, que é fruto das férias, da minha casa literalmente vazia, do término do meu namoro... enfim... Vai passar (eu espero).
Adorei! bjs.

Anônimo disse...

Seu texto, retrata um pouco da solidão inerente a qualquer ser questionador... O que importa é resistir a esta convivência - que muitas vezes gera tantos dessabores. Solidão, maldita às vezes, mas: que não haja desesperos.
Anônima de Patos.

Fernanda Amábile disse...

Tanta coisa passa, não é?!
Tão difícil quanto aceitar a solidão como compania é deixála ir com maiors problemas.


Muito bom.
;)

Lívio disse...

O texto tem mesmo o tom de uma carta, mas não deixa de ter o bom e velho toque literário.

Bela mistura.

Carol Martins disse...

E essa solidão acompanhada é que não se explica. A distância física sempre me faz pensar em uma distância emocional muito pior que é gerada em simplesmente não se importar, ou não se fazer importante. Ah, esquece, acho que tô meio deprê hj. =/

Carol Martins disse...

E essa solidão "acompanhada" é que não se explica. A distância física sempre me faz pensar em uma distância emocional muito pior que é gerada em simplesmente não se importar, ou não se fazer importante. Ah, esquece, acho que tô meio deprê hj. =/

Anônimo disse...

O silêncio é um ótimo companheiro, sempre está com você e não pede nada em troca.
O ruim é quando ele entra sem bater...