Eu sou a Futica, ou Sol, como queiram, a dona da Gabi, embora ela às vezes pense que é ela a minha dona. Na verdade a gente se alterna - de vez em quando eu tomo posse da relação, de vez em quando ela, talvez porque nenhuma de nós duas gostemos de absolutismos. Então eu vim falar pra vocês sobre ela, bem no dia vinte e dois, um presente ao aniversário vinte e dois, acho que ela sempre quis que eu, que a conheço melhor que qualquer outro, dissesse o que penso dela, a ela, a vocês.
A Gabi me respeita tanto, talvez porque ela não queira que eu seja só um mascote, percebo isso. Se pudesse, acho que ela pensa que ficaria comigo no colo o dia todo, menos nas horas em que ela fica de saco cheio. Mas não dá, Gabi, tenho que passear por outros colos, eu também quero outros abraços. Você pensa isso porque você não queria gostar tanto assim de pessoas, porque ninguém fica tanto tempo quietinho no seu colo quanto eu, porque você também não consegue confiar no colo de alguém a ponto de ficar horas e horas por conta sem achar que o está sufocando e se sufocando junto. Adoro ficar horas no seu colo e você no meu, mas quando eu me cansar eu vou ter que fazer outra coisa e você também.
Falando em colo, tem dois assuntos que preciso tratar com você: um deles é a sua mania de sumir de mim quando você se apaixona e então eu preciso pular de braço em braço pra preencher sua ausência. Se você tivesse morrido ou partido, era outra história... o caso é que sinto sua falta, bobona, e você chega em casa cansada e não me dá colo, eu não te dou colo, até que um dia você não aguenta mais e volta a querer só a mim de novo. Será que dá pra dividir, pra não ter que ficar indo e voltando o tempo todo por simplesmente exaustão? O outro assunto é aquela coleira horrorosa, você sabe e eu sei que você sabe que aquela coleira me agride moralmente, vou dizer a verdade. Você quer passear comigo, que seja sem coleira, à solta, ora, e passear não é isso? E se for pra obedecer, ir só aonde você quer ir, então que seja no colo. Eu não sou nenhum bebê e sei também que já peso nos seus braços, mesmo assim, se for pra obedecer, obedeço, desde que seja no colo.
Gente, esses dias um senhor bateu aqui na porta, e eu fiquei observando a Gabi. Ele estava bêbado e maltrapilho, a Gabi abriu a porta, eu lati muito pra defendê-la, acho que ela também ficou com medo, porque me tirou de perto. Então começou a conversar com ele e, meu Deus, como é doida ela e essa mania de achar que todo mundo só quer um abraço. Ele pediu dinheiro, não tinha, começou a contar sobre a vida dele, um copo d'água e não ia embora nunca mais! Ela perdeu a noção do perigo e deu nele um abraço. Acho que a Gabi não pensa muito nas coisas antes de fazer. Ao contrário dela, penso que, às vezes, defender-se é passar direto pelas pessoas - nem todo mundo vai entender o convite ao encontro sem querer logo invadir. Abraçar é bonito, Gabi, mas nem todo mundo fala a sua língua, aliás, a maioria das pessoas não.
Eu que já vi você chorar e rir, rezar e transar, acho que posso dizer que conheço um pouquinho do que é ser humano. E você olha pra mim e fica imaginando o que eu penso, como você sempre diz. Vou contar então, Gabi: não penso muita coisa na maior parte do tempo, não, eu só vou vivendo. Sabe, esse ar gostoso, o frio e tanto pêlo, o calor e tanto pêlo, o colo, as cores, a fome, os brinquedos, a sede, as vozes. Eu só vivo. Então você não precisa ficar se explicando o tempo todo, nem pensando tanta metalinguagem, eu não me importo. Você não precisa de filosofia pra viver comigo, não precisa fazer sentido. Pois se um dos nossos momentos mais especiais é quando a gente late uma pra outra... vai querer explicar isso pra mim?
É isso, Gabi, depois de tudo que a gente já se ensinou-aprendeu, se tenho ainda um presente pra lhe dar é tirar o excesso de nomes, que tem sido presente seu a mim. Então fique em paz e viva, comigo e além de mim. Simplesmente viva. Feliz aniversário. Viva! Viva!
9 comentários:
Hahahauhau adorável saber como cachorros são mais legais que humanos :-)
E qual adjetivo merece uma humana que pensa como cachorro - sem ofensa, claro (é que se eu tivesse um revisor, perderia também a espontaneidade hehe)?
- Adjetivo nenhum. Disse Futica..
Parabéns velhinha \o/
Gabriela, eu não sabia que a Sol latia tão bem. Penso até que ela poderia se dedicar a escrever.
E junto-me a ela: feliz aniversário!
Agora que conheço a Futica (pelo menos por fotos) até imagino ela falando tudo isso. hauahauahauahau xD
Parabéns de novo e depois dá uma olhadinha no meu blog.
;*
Obrigada, Gui, Lívio e Carol.
E obrigada, Futica linda (dona) da Gabi. ;)
A cachorra da Gabriela é muito esperta.
HAHAHAHA -.-'
(Desculpa, não queria perder a piada.)
Parabéns atrasado pelo seu aniversário, e que você viva muito e muito e mais que isso.
E um paradoxo que eu ouvi há tempos:
- A cada dia que vivemos, um dia a mais, ou um dia a menos?
Ah, ", rezar e transar," dentro da mesma vírgula, mas que ousadia hein?!
Gabriela:
o que mais posso te desejar a não ser fazer dos latidos de Futica os meus? Óbvio, sempre achei os cachorros os verdadeiros pioneiros da filosofia hedonista. Então, "apenas" viva!
Brigadão, Jorge e Raul! Vivamos...
Raul, a Futica me mata de vergonha contando essas coisas >.< rsrsrs
Essa Sol é muito sortuda!
Feliz aniversário, ainda que com atraso, Gabi.
Obrigada, Manoel! =)
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