Eu queria, numa hora destas, ter palavras a dizer a uma mãe que sofre, uma mãe que já tentou de tudo, que já apanhou da vida de todas as maneiras possíveis. Mas eu não tenho nada, além da minha solidariedade, além da minha disposição, além do meu abraço. Queria poder dizer que as coisas estão assim por isso e é assim que se resolve, mas eu não sei porque as coisas estão assim e eu também não consigo prognosticar. O que dá pra dizer é que você foi e é suficiente, é importante, é o máximo que pode, é e dá o máximo de si e não há do que se culpar. A vida às vezes nos prega peças e a gente ou se entrega ou se fortalece pra montar, das peças, os mosaicos. Você, mãe, é forte. Você é o ser que, quando nasceu mãe, nasceu para montar mosaicos de sorrisos e lágrimas, de carícias e porradas. Você é o mosaico da própria existência e não há o que questionar. É, parece-me, uma questão de abraçar colando agora e a qualquer momento todos os cacos e não de fingir que eles não estão aí. São cacos coloridos que, quando reorganizados, remontados, transformar-se-ão em arte ancestral materna, que só você é capaz de criar. Crie(-se), reinvente(-se), comemore(-se), a cada novo baque que espatifar tudo pelo chão - é a matéria prima da sua obra sendo gerada. Orgulhe-se. A grande obra apolínea e dionisíaca de arte, tudo ao mesmo tempo, ontológica e ôntica, é você. Disseram que o impossível é o que ninguém tentou. Você é a dona do impossível. Deus lhe abençoe.
"Escuta, meu filho, recebe um sábio conselho,
não rejeites minha advertência.
Mete os teus pés nos seus grilhões,
e teu pescoço em suas correntes.
Abaixa teu ombro para carregá-la,
não sejas impaciente em suportar seus líames.
Vem a ela com todo o teu coração.
Guarda seus caminhos com todas as tuas forças.
Segue-lhe os passos e ela se dará a conhecer;
quando a tiveres abraçado, não a deixe.
Pois acharás finalmente nela o teu repouso.
E ela transformar-se-á para ti em um motivo de alegria.
Seus grilhões ser-te-ão uma proteção, um firme apoio;
suas correntes te serão um adorno glorioso,
pois nela há uma beleza que dá vida,
e seus líames são ligaduras que curam.
Com ela te revestirás com de uma vestimenta de glória,
e a porás sobre ti como uma coroa de júbilo."
(Ecl, 6; 24-32)
Um comentário:
Oi Gabi,
não sei se somos donas do impossível,mas a partir do momento em que outra vida se entrelaça tão fortemente a nossa, há um (re)nascimento; morremos para o que fomos, irreversivelmente. Muito lindo seu texto e continue produzindo. Conte com meu apoio incondicional.Produza, no seu ritmo, nas suas condições, como puder e quiser...
bjs
Chris
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