Sobre o Bullying
É a coerção social de que Durkheim tanto falava. É o segredo que Clarice Lispector não quis revelar em entrevista, o novo trauma moderno ocidental, acontece geralmente na infância ou adolescência, quando começa o sentimento de solidão e começamos a nos esconder do mundo, esconder nossa essência, que é de amor, plenitude, paz e auto-compreensão e do mundo. A solidão vem cheia de culpas (superego).
Sobre o Incesto
É natural e ingênuo. É a descoberta da sexualidade entre as pessoas que mais se confiam, em família. Geralmente torna-se um dos traumas, pois é quando a coerção social começa a pesar sobre os corações que, antes puros, tornam-se agora ingenuamente sujos e culpados, solitários, por terem, gostado, amado e confiado o próprio corpo, o seu templo sagrado, a quem a sociedade convencionou não poder. E não é o incesto a única regra universal? Daí o mito do Édipo: a tragédia não é o incesto, mas sabê-lo.
Sobre a Adoção
Há raiva no adotado, transferida da família que o rejeitou para a família que o adotou. Por esta última sente desconfiança, pois nunca sabe ao certo, conscientemente, a verdade sobre suas origens. É preciso descobri-la, trazê-la à consciência, para que o adotado, ou o que assim se sente aprenda a confiar em suas famílias e adotá-las mutuamente e, assim, ao mundo à sua volta.
Sobre o Estupro
Assim como no incesto, torna-se um trauma, pois a pessoa estuprada, mesmo com a violência, sente-se bem, pois, a despeito disso, foi desejada incontrolavelmente pelo outro, mas sente culpa porque é um sentimento socialmente inaceitável. Pode tornar-se solitária e ter problemas de sexualidade, como inversão equivocada, repressão e outros. Os outros traumas citados também podem repercutir em problemas na sexualidade.
Sobre perversões
São pessoas que, por se adaptarem às coerções sociais e reproduzi-las em outras pessoas, carregam solitariamente culpa e consideram-se inseridos num nicho de maldade. É preciso reconciliá-las com elas mesmas. Tornam-se solitárias a partir do momento em que se responsabilizam pelo trauma, pela coerção de uma outra pessoa.
Sobre psicoses e não-neuroses
São pessoas auto-conscientes, plenas, tiveram o inconsciente dilacerado e, se não cuidadas, funcionam como esponjas, podem acabar absorvendo os problemas dos outros e sofrendo-os em si mesmas. Sabem em si as próprias respostas, não há inconsciência – sabem quem são, de onde vieram, e podem escolher como e para onde vão. Sentem muita raiva por saberem-se, pois é uma sensação claustrofóbica – claustrofobia real de palavras; para estes, é a própria perda da inocência e, para isso, sentem que não há possibilidade de volta. É preciso que se apeguem ao amor(-próprio e ao que destinam ao mundo), a única possibilidade de redenção e de auto-devolução da própria inocência. Os delírios e alucinações vêm de desejos e sentimentos conscientes, de companhia, raiva, medo, isolamento, morte, vida, amor, etc. Só a pessoa pode responder qual o desejo levou a um delírio ou alucinação e o jeito de dominar as alucinações é conversando com elas e mandando nelas, sendo delas o próprio superego também ambulante. Os delírios devem ser questionados sobre quais desejos representam e colocados à prova e só o delirante sabe como fazê-lo. O psicótico é um id ambulante, mas que, como é educado em sociedade, tem noção das regras sociais e pode se organizar e se portar normalmente. Delírios e alucinações também só se manifestam quando a pessoa se sente sozinha.
Sobre a auto-estima
A única maneira que vejo é a reconciliação com (o mito?) Deus, perdoar Deus pelos equívocos que (in)conscientemente consideramos que ele comete(u), para que nos sintamos por ele perdoados e também haja, então, uma reconciliação com nós mesmos, uma troca de amor entre o humano e o sagrado, o mito. Pois, se a oração que o mito Cristo nos trouxe, o pai nosso, está inteira em destinatário à segunda pessoa do plural (ex.: venha a nós o VOSSO reino) e ainda nos diz "perdoai os nossos pecados assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido", podemos muito bem interpretar que o mito Cristo veio à Terra para que perdoássemos e nos reconciliássemos com o mito Deus, pelo pecado do que considero aqui saúde mental, saber-nos.
Sobre a violência
A violência só atrai aqueles que a temem, pois, inconscientemente, os que a temem são os mesmos que a desejam. É preciso respeitar o próprio medo e recuar diante dele, não temer nas ruas e nem diante de estranhos e/ou supostamente conhecidos. É preciso saber-se mais forte. Mas no caso de não saber-se, no caso do medo propriamente dito, é preciso recuar, buscar outros caminhos, se proteger de si mesmo e do possível outro, em lugares, emoções e palavras seguras de quem sente-se forte, pois que quem sabe respeitar o próprio medo não é outra coisa, senão forte.
Sobre a raiva
A raiva é sentimento que só pode e deve ser compartilhado com quem se ama, pois que ninguém odeia o que lhe é indiferente. Quem ama tem armas fortes para lidar com a raiva do outro, ou, por amor, temos nossas próprias armas paras nos calar diante de quem amamos em nossos momentos de raiva para que quebremos o ciclo. Raiva gera raiva e raiva em excesso, especialmente em lugares onde não há amor e nem medo auto-respeitado, gera grande violência contra pessoas inocentes.
Sobre a reconstrução do ego
Parece-me a última parte da libertação dos traumas, fazer para si mesmo o papel de bardo, narrar a própria história, construir-se é conhecer-se, juntar os próprios cacos e abraçar-se como mosaico, descobrir o sentido da própria vida e reconciliar-se com ele.
Sobre o amor e a sexualidade
O amor, a paixão e a afetividade são indistintos – amamos pessoas do mesmo sexo e do sexo oposto, amamos a arte, o trabalho, e tudo o que nos oportuniza a sublimação da nossa sexualidade, mas o nosso corpo é que escolhe o corpo definitivo com o qual temos mais afinidade e isso deve ser respeitado, mesmo que para isso tenhamos que passar por diversos corpos de pessoas igualmente amadas antes de encontrar o definitivo, se o há.
Um comentário:
Bebela liricante, futura Psicóloga:
Que preciosas informações.
É possível sempre encontrar algo de suas Anotações Mentais, aqui dentro, ali fora, acolá...
Continue compartilhando seus conhecimentos. Sempre algo a nos ensinar muito.
Beijocas afetuosas!
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