Hoje li, na
BBC Brasil, uma matéria a respeito do índice alarmante de suicídios entre os adolescentes indianos, mais especificamente
em Mumbai. O texto aponta especulações, por parte de professores, psicólogos e autoridades governamentais, sobre os motivos que estariam levando esses jovens ao suicídio. Diz ainda que estão todos engajados na tarefa de estudar e colocar em prática possíveis maneiras de diminuir esses números.
O que me indignou foi a justificativa dada para diminuir o número de suicídios: os amigos e familiares de um suicida ficam, na maioria das vezes, lesados, emocional, social e economicamente, de maneira grave e irreversível.
De tempos em tempos, alguma sociedade é estigmatizada pelo número abundante de suicídios e todos se colocam a pensar, estudar e trabalhar, como habitual, contra a morte.
Como é insuportável para a maior parte da sociedade contemporânea lidar com a morte, é de direito humano também insuportar a idéia de lidar com a vida. Ambas são igualmente inevitáveis e ninguém passa por elas ileso, seja alvo direto ou indireto.
Problemas sempre vão haver, existem pessoas que conseguem lidar com eles, outras não. Existem as que querem conseguir e as que não querem. Eu defendo tanto a causa de alguns suicidas quanto a de pessoas que querem a pedra filosofal.
Altruísmo, perdoe-me se você acredita nisso, não existe - Jesus Cristo seja, talvez, um caso à parte. Se você não consegue suportar e entender a idéia de que um ente querido se matou, ele deveria mesmo ter continuado vivo? Por você?
Mania chata essa de quase todo mundo criar argumentos pra supervalorizar a vida em detrimento da morte. Até a morte de Jesus Cristo é encarada como um ato de nobreza em prol do homem. Ter tido que viver e conviver durante 33 anos com a obrigação de carregar a humanidade e toda a sua podridão nas costas e ainda ser submetido à ressurreição por milênios seguintes é, ao meu ver, um estigma muito mais nobre e digno de reverência. Morrer, para Cristo, durante toda esta era cristã, é antes um recesso do que um trabalho. E mais que merecido. Porque Deus é pai patrão.
Deviam dedicar mais olhos à remediação do estrago que essa ideologia da vitalidade-a-qualquer-custo acaba provocando em quem fica. Uma mudança ideológica até tenha, quem sabe, o efeito tão desejado, de diminuir o número de suicidas - porque esses, talvez mais que todos, amem e se apeguem à vida, por isso tudo pareça sempre tão pouco - não que não seja; e nem que seja.
A despeito de tudo isso, que continuemos fazendo o possível a fim de um mundo e de uma vida melhor, para que cada vez menos pessoas se matem. Primordialmente, que as pessoas que eu amo não se matem, por favor! Por mim.
E isso foi mais uma intelectualização - e algo me diz que outras virão - do que uma liricada. Só pra constar.