quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

ESPERANÇA

terá
amanhã
terá passado
amanhã
terá presente

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

SOB(RE) ALTURAS

Depois que se descobre a preciosa aventura da escalada, a vida dispensa eleva-dores.

O degrau mais difícil de se subir é o primeiro. Talvez por isso mesmo ele seja galgado quase sempre tardiamente - depois de uns pulos ali e outros tombos aqui.

Um dia desses a gente consegue encarar o fato de que ascender não necessariamente nos distancia do chão; a gente aprende a encarar o próprio chão - e, com sorte, a força dos nossos próprios pés.

Com insistência, um dia desses a gente finalmente começa do início e, quem sabe, se surpreende escala-dor.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

CONTRATEMPO

Não se sinta sempre tão errada, imperfeita, pequena. É só com paciência e prática que se aprende a fluir dançante, a largos passos, sem pesar tanto a si mesma em meias-pontas. E nem ouse sair correndo antes de aprender direito a próxima condução, porque vou lhe segurar e repetir até que você acredite... calma, mulher! Há, entre nós, tempo e beleza bastantes; o nosso amor não está sob a condição de ser sempre perfeito e,  mesmo assim, de vez em quando, tudo vai ficar bem.

Não falemos agora de notícias, filmes, livros e músicas, se o que nos queima as papilas é eu-em-você-em-mim. Sem exaspero... não tente entender nem questionar tanto, alternando esse olhar intenso entre tantos extremos vacilantes - sinta, simplesmente... meu olhar, embora duro, não é fugaz nem farpado, então você pode pousar nele o seu, com inteireza e coragem,  sem ponderar estar sempre aquém ou além. Esteja. Vem! Dance comigo e, enquanto a música tocar, vamos explorar juntos e, sem vertigem, girar sobre o centro de nós dois.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

SOBRE SUICÍDIOS

Hoje li, na BBC Brasil, uma matéria a respeito do índice alarmante de suicídios entre os adolescentes indianos, mais especificamente em Mumbai. O texto aponta especulações, por parte de professores, psicólogos e autoridades governamentais, sobre os motivos que estariam levando esses jovens ao suicídio. Diz ainda que estão todos engajados na tarefa de estudar e colocar em prática possíveis maneiras de diminuir esses números.

O que me indignou foi a justificativa dada para diminuir o número de suicídios: os amigos e familiares de um suicida ficam, na maioria das vezes, lesados, emocional, social e economicamente, de maneira grave e irreversível.

De tempos em tempos, alguma sociedade é estigmatizada pelo número abundante de suicídios e todos se colocam a pensar, estudar e trabalhar, como habitual, contra a morte.

Como é insuportável para a maior parte da sociedade contemporânea lidar com a morte, é de direito humano também insuportar a idéia de lidar com a vida. Ambas são igualmente inevitáveis e ninguém passa por elas ileso, seja alvo direto ou indireto.

Problemas sempre vão haver, existem pessoas que conseguem lidar com eles, outras não. Existem as que querem conseguir e as que não querem. Eu defendo tanto a causa de alguns suicidas quanto a de pessoas que querem a pedra filosofal.

Altruísmo, perdoe-me se você acredita nisso, não existe - Jesus Cristo seja, talvez, um caso à parte. Se você não consegue suportar e entender a idéia de que um ente querido se matou, ele deveria mesmo ter continuado vivo? Por você?

Mania chata essa de quase todo mundo criar argumentos pra supervalorizar a vida em detrimento da morte. Até a morte de Jesus Cristo é encarada como um ato de nobreza em prol do homem. Ter tido que viver e conviver durante 33 anos com a obrigação de carregar a humanidade e toda a sua podridão nas costas e ainda ser submetido à ressurreição por milênios seguintes é, ao meu ver, um estigma muito mais nobre e digno de reverência. Morrer, para Cristo, durante toda esta era cristã, é antes um recesso do que um trabalho. E mais que merecido. Porque Deus é pai patrão.

Deviam dedicar mais olhos à remediação do estrago que essa ideologia da vitalidade-a-qualquer-custo acaba provocando em quem fica. Uma mudança ideológica até tenha, quem sabe, o efeito tão desejado, de diminuir o número de suicidas - porque esses, talvez mais que todos, amem e se apeguem à vida, por isso tudo pareça sempre tão pouco - não que não seja; e nem que seja.

A despeito de tudo isso, que continuemos fazendo o possível a fim de um mundo e de uma vida melhor, para que cada vez menos pessoas se matem. Primordialmente, que as pessoas que eu amo não se matem, por favor! Por mim.


E isso foi mais uma intelectualização - e algo me diz que outras virão - do que uma liricada. Só pra constar.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

ÁGUA

Nosso amor, nos meus olhos,
é tão desamarrado, sereno e limpo,
que há quem duvide, quando digo.

Então nossos olhos profusos se reencontram,
reconhecem, reverenciam, renovam,
poros atentos, difusos, entregues.

Tudo o que preciso agora é,
sem testar nem ver, degustar.
E nada dizer.