segunda-feira, 31 de maio de 2010

SENTIDO

Ele: Não sei como você gosta de chiclete de canela... faz tanto sentido quanto sorvete de... elefante!... Como que fazem chiclete de um pau?

Ela: Quê isso! É gostoso... você também iria gostar de sorvete de elefante... principalmente se tivesse flocos de pele de elefante... você gosta tanto de proteína, imagina... pele de elefante parece ter proteína!

Ele: Não... não tem nada a ver... sorvete de elefante, imagina: você pega o elefante, coloca no espremedor de elefante, pega embaixo com um copo e põe leite, bate e congela.

Ela: Mas qual o problema em pôr flocos? Nem se tiver proteína?

Ele: Porque flocos de elefante não devem ser bons - elefantes são... seres!

sábado, 29 de maio de 2010

AO VENTO

E quando toda a nossa história
teimar em parecer mentira,
eu vou acreditar na força dos nossos olhos,
em nossas peles,
no que, entre nós, não teve palavras.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

JÁ COMEÇOU

Para Vívian Garcez, para mim e para você.

Por que eu não posso ser grande, mesmo se me sinto grande?
Por que algumas pessoas insistem em fingir que não faço diferença pra elas?
Por que só elas podem sentir que fazem diferença em mim?
Por que tanta gente só quer sentir que ensina e depois ir embora?
Por que tanta gente que eu amo não diz a verdade, não olha pra mim e reconhece que também aprende?
Por que aprender, para algumas pessoas, parece sinônimo de ser menos?
Por que aprender, para mim, parece sinônimo de ser mais?
Por que eu não posso ir embora?

Por que eu tenho que respeitar tanto mesmo quem eu sinto que pouco me respeita?
Porque eu sinto que pouco me respeitam?
Eu me respeito?
Por que eu tenho que ser quem eles querem que eu seja e eles não podem me amar como eu sou?
Por que eu não me sinto amada quando sou grande?
Por que insistir em me diminuir para ser amada?
Por que eu amo tanta gente que só sinto que se sente grande me diminuindo?
Será que eu me sinto grande quando sinto que eles se sentem pequenos?
Por que às vezes parece que eu amo ser pequena, se não me sinto pequena?
Será que somos todos pequenos? Será que já somos grandes?
Por que parece tão difícil continuar crescendo?

Será que já aprendi mesmo a me amar, se ninguém realmente ensinou isso?
Será que dá pra ensinar a essas pessoas a me amarem agora e, então, aprender com elas, como se faz?
Será que dá pra ensiná-las a amarem outras, que não elas mesmas nos outros?
Será que eu já sei fazer isso?
Será que posso, agora, ensinar essas pessoas a aprender, aprendendo a ensinar?
Será que ninguém nunca ensinou-aprendendo, antes? Será que, antes, eu já aprendi-ensinando?
Será que elas querem? Eu quero?

Ou será que posso deixar essas pessoas por elas serem assim, exatamente como sinto que elas fazem comigo?
Será que se eu for embora depois de sentir que aprendi não vai ser o mesmo que elas irem embora depois de sentirem que ensinaram?
Será que eu já tentei?
Será que tem jeito de ser genuinamente feliz ainda, no meio dessas pessoas?
Será que elas já foram genuinamente felizes comigo?
Será que não?
Será que há ainda tempo e espaço pro ensinar-aprender recíproco?
Será que é isso o que a gente tem que se ensinar-aprender, daqui pra frente, pra que ninguém precise ir embora?
Será possível?

Será que já começamos, quando tudo começou?
Será que é este, inicial/finalmente, o caminho?







"Professor, diretor... Por quê?

            Professor, por que não posso ser grande? Professor, por que as letras formam palavras e as palavras formam frases? Por que você precisa de giz colorido e não de giz de cera? Professora, por que não posso ir brincar lá fora? Professora, por que eu tenho que ler?
            Professor, por que não posso ficar em pé durante a aula? Professora, por que não posso ir ao banheiro ou beber água? Por que me deixou sem recreio? Professora, por que não posso me sentar perto dos meus amigos? As outras crianças podem... Professora, por que você me odeia? Por que não gosta de sorrir? Professor, por que as outras crianças não gostam de mim? Por que tenho que copiar toda a matéria do  quadro negro? Por que não posso ir para casa?
            Professora, por que tenho que ter treze anos? Professor, por que tenho que ir para o colegial? Professor, por que tenho que crescer?
            Professora, por que você me deu nota zero na redação? Professor, por que você não me deixa consultar meu colega ao lado? Professor, por que você grita tanto? Não vê que não posso chorar na frente dos meus amigos? Professora, por que você me expulsou da sala? Por quê? Diretor, por que está ligando para os meus pais? Professor, diretor, por que vocês não acreditam em mim?
            Professora, por que preciso me formar? Professor, por que preciso ensaiar a valsa? Por que meu coração dispara cada vez que ele dança comigo?
            Professora, por que nós temos que crescer? Professora, por que precisamos entrar pra faculdade? Por que precisamos ir embora?
            Professor, professora, por que vocês tiveram de me deixar? Eu preciso de vocês. Ainda não aprendi a andar sozinha.
            Professor, por que preciso de um emprego? Por que quero ser professora? Por que você não se lembra de mim?
            Professora, por que a minha juventude se foi tão depressa? Por que meus alunos cresceram? Por que eles tiveram de ir embora? Por que não me lembro das fórmulas de física? Por que preciso de óculos para ler? Por que minhas mãos tremem quando tento escrever? Por que, Deus, não posso ser grande?"

 (Vívian Garcez)

quarta-feira, 19 de maio de 2010

MANUAL DE USO DO MEDO

Se as pessoas que me amam me querem viva, e se eu as quero vivas, quer dizer que fazemos diferença no mundo por simplesmente existir. Medo de morrer então vale, mas medo de viver também, quando viver estiver nos morrendo.

Arrogância e prepotência só são úteis com pessoas arrogantes e prepotentes, como defesa... devo ter medo de usá-las como ataque, especialmente contra gente simples e boa. Pode machucar pessoas e, sem medo, provavelmente vai. Pode machucar a mim.

Tem que ter um problema? Não tem que ter, mas pode ter – se a questão dá medo, não tem que ter, mas se não dá, é bom mesmo que tenha um problema.

Não há como não julgar, então lembrar de julgar para fazer diferente no que parece errado e para fazer igual no que parece certo. Medo de julgar não serve, mas medo de repetir os erros dos outros e os meus próprios serve.

Não vim à vida para machucar nem para ser machucada, mas acontece... porque ninguém é perfeito, nem eu sou. Serve o medo de machucar, bem como o medo de ser machucada, tanto pelas pessoas que amo quanto pelas pessoas de quem não gosto – é preciso saber defender os outros, mas também se defender dos outros. E já que ninguém é perfeito, vale tanto perdoar quanto pedir perdão. Culpas são para serem sentidas e desculpas para serem pedidas, bem como dadas a quem pediu.

A racionalidade serve tanto quanto a sensibilidade. Servem agora. Nenhuma das duas precisa ser uma avalanche, posso usá-las, em boa medida, para ser amiga, para escrever, cantar, ler, ouvir e falar, sem desabar nos outros. Mas posso também desabar nos outros se eu achar que preciso, assim como eles  podem desabar em mim - como amiga, devo aprender a suportar e a ser suportada. Vale o medo de exagerar e de perder o equilíbrio entre racionalidade e sensibilidade.

Gratidão: vale a gratidão como reconhecimento da importância do outro na minha vida, mas vale ter medo de continuar pagando e pagando, quando a minha própria importância na vida dele puder já ter sido suficiente. Amizade e amor sobrevivem da troca e, na troca serve a dádiva, muito mais do que a gratidão. Lembrar de agradecer a Deus por ter tanto e sempre com quem trocar.

Perseguir e ser perseguida: quando a gente persegue, quer ser perseguido e, quando somos perseguimos,  podemos perseguir. Mas vale ter medo de não parar nunca. Lembrar de perceber a hora de parar, porque deve ter sido assim que começaram as guerras. E eu não quero guerras.

A exaustão dá medo de parar. É bom procurar o que está me deixando exausta, para não querer parar tudo. Vale o medo de parar, mas também vale o medo de insistir no que já está esgotado. Em mim, megalomania geralmente cansa mais do que simplicidade. O que exaure você?

Vale ter medo das verdades que crio para outras pessoas, bem como ter medo das que só servem para mim mesma – já que são geralmente as únicas que realmente vão servir aos outros, e é delas que nasce a troca. Lembrar de conversar com o outro sempre dizendo quem é ele para mim e quem sou eu, também para mim, em vez de tentar convencê-lo de quem é ele para si ou de quem eu devo ser para ele.

Querer ver e ser visto vale. Mas tudo o que é demais... é demais. É bom ter medo de ver demais e de ver de menos, antes que a loucura esteja nos meus olhos e eu só veja o que quero ver. Também é funcional ter medo de ser vista demais, antes que dê vontade de sumir, assim como é funcional ter medo de sumir, antes que dê vontade de ser vista demais.

Lembrar de procurar minha imagem no espelho, mas ter medo de procurar, no outro, o meu espelho. Pessoas são diferentes e o amor mora na diferença, não nos espelhos.

Falando em amor a espelhos, vale ter medo do amor-próprio e da auto-confiança, já que, em excesso, fazem perder o próprio medo, e o medo foi tudo o que me restou quando eu achei que já não tivesse mais nada.

sábado, 15 de maio de 2010

CORRESPONDENTE

(Para todos vocês, meus, amigos e amores, eu. A nossa semente está plantada.)

Você  também vê as pessoas? Você as sente? E machuca quando você percebe que elas não querem ser vistas? É por isso que você se esconde? Você me viu, quando eu não quis deixar você me ver? É isso? Eu machuquei você?

Não é a gente que precisa de conserto, mesmo não... fiquei procurando conserto a vida inteira e tudo o que eu consegui foi chegar ao ponto em que você está - eu vejo as pessoas, eu as sinto... e me machuca perceber que elas não querem ser vistas.

Sinto vontade de sair correndo, de me esconder, e elas só querem me trancar. Sinto medo até de me internarem num hospício - e eu sei que a loucura nao é minha. Sinto medo de as pessoas correrem de mim.

As pessoas não querem o próprio lixo e querem que nós, que assumimos nosso próprio lixo, mas também nosso próprio luxo, fiquemos com o lixo delas. Eu não quero o lixo de ninguém, eu só quero o meu próprio. Mas também não quero ficar sozinha, preciso de alguém que realmente queira me ver e que se deixe ver por mim também.

Então não deixe ninguém tentar "consertar" você mesmo, não! Não é arrogância, é a certeza de que você se conhece, e ama luxo e lixo, porque é tudo o que se pode ser.

Eu só preciso de uma pessoa que me ouça e entenda tudo isso... não. Na verdade, eu preciso de mais pessoas, preciso da minha família, preciso dos meus amigos, preciso de todos que toparem esse encontro. Você também sente que precisa de mais pessoas?

A gente é especial mesmo, e podemos ajudar as pessoas que passam por nós a descobrirem que são também especiais, porque são elas que, antes, nos descobrem assim.

Isso é o que eu chamo de silêncio por dentro, uma freqüente epifania. É justamente o que nos dispõe aos encontros, sempre tão intensos. O nosso silêncio por dentro é essa sensação de estar sempre flutuante, é o que nos permite ver os outros, e nos modificar, nos construir com eles. E eu preciso do seu silêncio pra me devolver ao meu. Talvez seja essa a nossa maior semelhança e o nosso maior vínculo daqui pra frente: preservar o silêncio um do outro.

Do meu silêncio eu finalmente consegui ouvir a minha familia, os meus amigos, as pessoas que eu amo. E eles me ajudaram a me encontrar e isso ajudou todo mundo a se encontrar junto. E eu consegui perceber o que eu não quero da vida, embora eu vá terminar o que comecei e continuar tirando os bons frutos que sempre colhi disso.

O que eu quero da vida são as pessoas. Eu quero ser das pessoas e quero ser de mim mesma - e também quero que elas sejam minhas e, ao mesmo tempo, delas mesmas. E, sabendo dos meus porquês, sinto que tenho coragem pra isso. Sinto-me pronta.

Então desejo, do fundo do meu coração, que do seu silêncio, meu grande amigo, brotem coisas tão lindas quanto têm brotado do meu. Eu desejo, essencialmente, que do seu silêncio, agora, brote você.


http://fiostensos.blogspot.com/2011/01/sobre-as-cartas-de-amor.html

segunda-feira, 10 de maio de 2010

EPIFANIA

"Tudo o que se pensa e se sente de alguma forma existe e é preciso dizê-lo."


Silêncio