terça-feira, 23 de agosto de 2011

ÓCULOS

Às vezes dá a impressão de ter feito tudo errado, de ter escrito tudo errado. Vontade de acabar com tudo, mesmo antes de entender. Mesmo antes de saber se um dia terei entendido. Continua sendo solitário demais andar por entre as gentes. Dá raiva de Deus, que é mais forte que o fogo. Dá raiva de mim, que sou mais fraca que o pó da terra de que sou feita. Tão forte a terra. Tão forte a água. E o ar. Algumas vezes penso que somos mesmo feitos é dos

quatro elementos básicos, que o homem insiste em transformar, destruir. Uma linha foi saltada. Uma linha não preenchida. Diz-me que algo neste texto não me pertence. Ainda que uma linha. Tanta coisa pode ser escrita numa linha. Estou sem meus óculos

e as letras se misturam, se sobrepõem, impedindo que eu veja o que eu mesma escrevo. Escrevo às cegas. E outra linha saltada. As linhas da clareza. Cada vez que salto uma consigo me situar melhor na minha própria escrita perdida. Deve haver um Deus preenchendo as linhas saltadas com os óculos que por preguiça e/ou comodismo encostei na escrivaninha. Coloco os óculos. Até a minha letra fica mais legível. Releio o texto. Dá vontade de apagar quase tudo e deixar só as linhas saltadas. Foi o que de mais genuíno o texto pariu. E é com elas que eu deixo você.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

PRIMEIRO DESENHO