Ele se esforça, estuda, lê, calcula, se informa, angustia, produz, se eleva; é admirado, condecorado, aplaudido, retrucado, vez ou outra rejeitado ou reconhecido; e acha que pensar o mundo pautado em grandes nomes - da ciência, da literatura, da música, do cinema - o libertam minimamente da mediocridade, do controle externo, da submissão ao poder, do automatismo.
Ela dança o que tocar na festa e ouve em casa a trilha sonora da novela das oito; aos domingos assiste e se diverte com qualquer coisa transmitida pela TV comum; suas grandes aspirações são um bom salário, boa aparência, bom marido e bons filhos; não se importa muito com cinema; livros, então, não leu mais de cinco; se tem dor, vai ao médico e, se sofre, à igreja; não aborda política, convenções ou ciência; prefere, antes, conversas de salões de beleza e de banheiros femininos.
A despeito de tantos contrastes, ambos estão exaustos e oncológicos, ponderando se têm valido a pena. Cá, entre todos nós, a "grande" diferença são os ídolos.
Somos um bando de Hitlers, disfarçados de Ches.