(das linhas à Vera.)
Estou fazendo tratamentos sim - com medicamentos, terapias, voltei a cuidar da minha espiritualidade - porque nos últimos meses, antes da tentativa de suicídio e da minha internação, andei muito cética e cínica em relação ao mundo, à vida (você deve ter percebido pelos meus textos anteriores)... sem esperanças, nada fazia o menor sentido; abatida e afogada numa morbidez de que só a experiência na clínica psiquiátrica conseguiu me tirar.
Foi me envolvendo na coletividade de pessoas desadaptadas, como eu estive a vida inteira, é que descobri, ou melhor, me certifiquei de que o nosso real problema é, sempre foi, excesso de amor, de cuidado, de humanidade, que são agredidos, desrespeitados, pisados e, por isso mesmo, medrosos, escondidos, e muito solitários, ao longo da vida... porque, você sabe, a gente vive neste mundo onde os valores aprendidos são muito outros - de desumanidade burguesa alienante e extremamente bárbara.
E o que fazer senão aceitar "adaptar-se"? A velha estratégia de juntar-se ao inimigo para, então, talvez, poder contra ele, pois não acredito que excesso de humanidade é que seja a doença, não acredito pois, que haja doença em qualquer um de nós - os literalmente (im)pacientes modernos. Tudo isso mais as coisas que vão muito além do que qualquer materialidade consegue explicar - assunto que tentei silenciar em mim durante os meus vinte e dois anos e que, enfim, também explodiu, mas fica para uma próxima conversa nossa.
E seus dias, como estão? Fale-me um pouco mais de você. Obrigada pelas palavras, pelo carinho, pela atenção.