Eu não poderia imaginar que, depois de anos, estaria aqui de novo, me tocando ao pensar em você, imaginando o amor que nunca fizemos. Depois de o diabo ter amassado aquele pão na minha garganta, me engasgado, asfixiado e me feito regurgitar da maneira mais violenta a que eu nunca na vida me disporia, cada segundo que passei ao seu lado. Eu me dispus. E hoje, finalmente eu quis e consegui olhar de novo pra você aqui dentro, que me doeu com o mesmo encantamento daqueles meses e com esta nostalgia de nunca mais.
E agora vejo você aqui, devorando em meu corpo toda esta vida que não tive pra oferecer, de tanta morte que eu era. Posso sentir seu abraço com o peso do lamento de sermos, assim, só fruto da minha imaginação. Você entrando e saindo de mim devagar pela primeira e última vez na vida, só pra me-ter sendo agora tudo o que queríamos juntos ter sido. E nenhum de nós dois se atreveria a gozar, a terminar de vez com tudo isso, como se o fim fosse um grande prazer.
Sozinha, sim, eu encharco os meus dedos, embora esse limbo de fantasia vá nos pertencer pra sempre, denso, em câmera quase lenta, esperando o choro e o orgasmo que jamais vêm. Você e eu, juntos, condenados ao gozo-de-quase-fomos. Gozo-de-quase-fomes.
Sozinha, sim, eu encharco os meus dedos, embora esse limbo de fantasia vá nos pertencer pra sempre, denso, em câmera quase lenta, esperando o choro e o orgasmo que jamais vêm. Você e eu, juntos, condenados ao gozo-de-quase-fomos. Gozo-de-quase-fomes.