(das entregas à T.T.)
Uberlândia, 14 de agosto de 2010.
(...) É claro que há outras maneiras de receber do outro, mas isso me remeteu à minha mania/hábito de incondicionalmente (ou quase isso) dar e dar e dar. Não sei, mas acho que ultimamente ando meio cansada, mais egoísta, mais ressentida com tantas faltas, possivelmente até mais vingativa. E isso nem me soa ruim. É como se, finalmente, eu tivesse aceito a guerra pela sobrevivência - matar para não morrer, quando for o caso.
Cansei de sofrer por o que talvez fosse pouco se eu não fizesse questão de ampliar tanto tudo o tempo todo. Tudo é tão pequeno - nossos erros, acertos, céus e abismos, embora sempre tão profundos, sempre tão rasos quanto tudo o que sou capaz de conceber. E a humildade me deu um de seus abraços e me disse "respira".
Estou indiferente ao mundo, à vida? Acho que não. Continuo aqui com meus medos, ansiedades, raivas. Mas parece que o amor, a alegria e a tristeza em mim estão menos exaltados, menos desesperados, menos preocupados. Talvez sejam estas as palavras que melhor cerceiem o que tenho vivido: a experiência do menos.
Eu me pergunto se isso diminui minha intensidade e se, noves fora zero, vale a pena, e a única resposta que me vem é a indiferença - realmente tanto faz. Algumas coisas são inescapáveis demais para eu aceitar me responsabilizar por elas. O controle é uma ilusão e tudo o que eu posso, sem ele, é viver. Pensei em dizer "ou morrer", mas seria mentira, pois todas as vezes em que eu quis morrer foi por achar, entre outras coisas, que havia um controle e eu não conseguia exercê-lo.
Também considerei como assunto encerrado a Psicanálise, mas há momentos em que percebo eu me desobedecer a respeito disso. E tudo bem também - o meio termo é o que consigo agora. Em cima do muro, nem lá nem cá, é um lugar que sempre me agradou muito, pois se a unanimidade for pra um lado, é do lado oposto que, de maneira hedonista, eu quero ficar. Sim, adoro ser do contra, até de mim mesma. Sorte a minha, eu acho, já que em água movimentada mosquito da dengue não bota ovo. Água invariavelmente solitária, pois. Mas solidão é um assunto sobre o qual, senão por estas últimas linhas, quero me abster hoje.