Se me sinto especial? Sinto-me especial no mundo, entre tantos seres humanos, porque gostaria de ser. Assim como o ser humano superestima a própria espécie, eu, tantas, todas vezes humana, superestimo a mim mesma, como indivíduo.
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Não obstante, tenho fé na finitude: a vida é paixão e a morte é amor - paixão como qualquer coisa apinhada de sofrimento e euforia, de desejo e frustração; qualquer coisa em profundo desespero de "ser ou não ser"; qualquer coisa cega e voraz, cheia de fins em si mesma. Amor como um destino, um alvo, inescapável, embora possa, ou não, ser buscado; bálsamo, repleto de ternura e descanso, mas, quem sabe, puro tédio (se for o caso de anular a paixão). Amor e paixão, morte e vida - um só se significa no outro, ainda que em despretensioso vislumbre.
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Amor e morte podem ser encarados como prêmios a merecimentos: aos que se excederam de vida e de paixão, aos que mergulharam na existência sem ponderar asfixia, por privação de ar, ou esmagamento, por inabituável densidade. Apaixonemo-nos!
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No pó de onde vim fez-se o pó que hoje sou. E em mim, bem aqui, está impresso e expresso tanto todo universo. Sou, sim, especial, por esta simples essência, comum a cada outro ponto-pó - plena da pequenez e da grandeza que só pode haver em tudo o que existe. E, tudo, pois, é nada. Eu, no início, no meio e no fim. Paixão e amor, siameses, em mim.