segunda-feira, 28 de setembro de 2009

SIM

Quero o cheiro do seu corpo no meu corpo
e as batidas do seu coração
ritmando os meus compassos.

Quero minha mão segurando a sua mão
e, ávidas, nossas quatro mãos
nos zíperes destas roupas cáusticas.

Quero aqui a sua voz lendo meus mil pensamentos
e o brilho dos seus olhos preenchendo todo o dia,
pincelando meus espelhos.

Quero em meus ouvidos sua boca, sussurrando a tabuada
que elaboram nossas línguas
nesta álgebra de poros.

Quero, em todos os sentidos, quero sim,
vem que, enfim, eu quero muito,
inteiro, você em mim.


CANÇÃO

dizer com simplicidade
que você me faz um bem
e faz tudo tão certo
que eu faço mais certo

e por você me permito
privar-me dos meus vícios
da tristeza e produção
que insistem me acolher

e quem sabe aceitar
a idéia tão difícil de que
também eu mereço, posso e,
com você, sou mais feliz

"E agora me conta o que aconteceu, que eu ando encostando os meus sonhos nos seus." (Luiza Possi / Dudu Falcão)

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

META-LINGUAGUEM



dizer com a lingua
eu te amo
em versos,
entre catacreses e aliterações,
em gradações de metáfora
buscando sinestesias
paradoxais
disfemistas
hiperbólicas.

quase oxímoro!


Vide: Liviano

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

BILHETE

Ela abre o caderno e espreme a caneta, na esperança de que palavras bonitas escorram para o papel. Palavras claras, que digam a importância de tudo isto - tanta presença e tanto abraço, tanta música e tanto sorriso, tanta filosofia e tanto tesão.

Agita, então, levemente, a caneta, para que, talvez trêmulas, elas também confessem um pouco do medo desta beleza toda. E, por isso mesmo, com a força do pensamento, ela ordena que a tinta continue molhada, até que ele chegue ao último ponto - assim ele saberá que um pouco de paciência mais pequenas doses de sopro quente provavelmente a farão sentir-se pronta.

Dobra com cuidado o papel, porque quer embrulhar e preservar o presente que aquelas linhas guardam. O presente ao presente que ele, subitamente, é.

E é agora, quando ele a lê, que as palavras secam para que ela, finalmente, umedeça.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Pessoas,

Muito obrigada pelas visitas e pelos comentários - tanto os deixados aqui no blog quanto os de vocês que comentam comigo pessoalmente, ou pelo orkut, e-mail e msn.
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Cada texto é uma confissão vestida para baile. Mas a confissão deste vem nua e ainda em vertigem, como acordou: a possibilidade de me compartilhar aqui faz-me sentir menos só, menos inescrutável, deixa estes véus, quem sabe, um pouco transparentes.
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Sinto-me muito bem em saber que muitos se identificam com o que expresso aqui; e que mesmo os que discordam se dispõem a pensar junto, questionar, discutir... penso sempre e aprendo sobre cada reflexão proposta por vocês, em qualquer que seja a ocasião.
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Estou em busca das minhas verdades, possíveis de alcance apenas através do confronto, entre perguntas e supostas respostas, sempre nossas.
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Obrigada mesmo.
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Gabi.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

DO PÓ AO PÓ

Se me sinto especial? Sinto-me especial no mundo, entre tantos seres humanos, porque gostaria de ser. Assim como o ser humano superestima a própria espécie, eu, tantas, todas vezes humana, superestimo a mim mesma, como indivíduo.
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Não obstante, tenho fé na finitude: a vida é paixão e a morte é amor - paixão como qualquer coisa apinhada de sofrimento e euforia, de desejo e frustração; qualquer coisa em profundo desespero de "ser ou não ser"; qualquer coisa cega e voraz, cheia de fins em si mesma. Amor como um destino, um alvo, inescapável, embora possa, ou não, ser buscado; bálsamo, repleto de ternura e descanso, mas, quem sabe, puro tédio (se for o caso de anular a paixão). Amor e paixão, morte e vida - um só se significa no outro, ainda que em despretensioso vislumbre.
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Amor e morte podem ser encarados como prêmios a merecimentos: aos que se excederam de vida e de paixão, aos que mergulharam na existência sem ponderar asfixia, por privação de ar, ou esmagamento, por inabituável densidade. Apaixonemo-nos!
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No pó de onde vim fez-se o pó que hoje sou. E em mim, bem aqui, está impresso e expresso tanto todo universo. Sou, sim, especial, por esta simples essência, comum a cada outro ponto-pó - plena da pequenez e da grandeza que só pode haver em tudo o que existe. E, tudo, pois, é nada. Eu, no início, no meio e no fim. Paixão e amor, siameses, em mim.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

SOBRE TATUAGENS

Tatuo rastros em peles, sorrisos e olhares. Meus instrumentos são abraço e presença inesterilizados e compartilháveis. O preço é, ao menos, um rastro seu em mim. Então... arrisquemos?

"A thing of beauty is a joy for ever." (John Keats)

domingo, 6 de setembro de 2009

DE NÃO SE SABER

amei você
e, sobretudo,
amei-me, em você

mas, depois do seu não,
nem eu sei
o que fazer de mim

a grande ironia
é que, mesmo antes,
eu nunca soube

"E eu, que jamais daria, era o verbo dar, dizendo assim 'quem dera!'" (Oswaldo Montenegro)