terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

SOBRE SUICÍDIOS

Hoje li, na BBC Brasil, uma matéria a respeito do índice alarmante de suicídios entre os adolescentes indianos, mais especificamente em Mumbai. O texto aponta especulações, por parte de professores, psicólogos e autoridades governamentais, sobre os motivos que estariam levando esses jovens ao suicídio. Diz ainda que estão todos engajados na tarefa de estudar e colocar em prática possíveis maneiras de diminuir esses números.

O que me indignou foi a justificativa dada para diminuir o número de suicídios: os amigos e familiares de um suicida ficam, na maioria das vezes, lesados, emocional, social e economicamente, de maneira grave e irreversível.

De tempos em tempos, alguma sociedade é estigmatizada pelo número abundante de suicídios e todos se colocam a pensar, estudar e trabalhar, como habitual, contra a morte.

Como é insuportável para a maior parte da sociedade contemporânea lidar com a morte, é de direito humano também insuportar a idéia de lidar com a vida. Ambas são igualmente inevitáveis e ninguém passa por elas ileso, seja alvo direto ou indireto.

Problemas sempre vão haver, existem pessoas que conseguem lidar com eles, outras não. Existem as que querem conseguir e as que não querem. Eu defendo tanto a causa de alguns suicidas quanto a de pessoas que querem a pedra filosofal.

Altruísmo, perdoe-me se você acredita nisso, não existe - Jesus Cristo seja, talvez, um caso à parte. Se você não consegue suportar e entender a idéia de que um ente querido se matou, ele deveria mesmo ter continuado vivo? Por você?

Mania chata essa de quase todo mundo criar argumentos pra supervalorizar a vida em detrimento da morte. Até a morte de Jesus Cristo é encarada como um ato de nobreza em prol do homem. Ter tido que viver e conviver durante 33 anos com a obrigação de carregar a humanidade e toda a sua podridão nas costas e ainda ser submetido à ressurreição por milênios seguintes é, ao meu ver, um estigma muito mais nobre e digno de reverência. Morrer, para Cristo, durante toda esta era cristã, é antes um recesso do que um trabalho. E mais que merecido. Porque Deus é pai patrão.

Deviam dedicar mais olhos à remediação do estrago que essa ideologia da vitalidade-a-qualquer-custo acaba provocando em quem fica. Uma mudança ideológica até tenha, quem sabe, o efeito tão desejado, de diminuir o número de suicidas - porque esses, talvez mais que todos, amem e se apeguem à vida, por isso tudo pareça sempre tão pouco - não que não seja; e nem que seja.

A despeito de tudo isso, que continuemos fazendo o possível a fim de um mundo e de uma vida melhor, para que cada vez menos pessoas se matem. Primordialmente, que as pessoas que eu amo não se matem, por favor! Por mim.


E isso foi mais uma intelectualização - e algo me diz que outras virão - do que uma liricada. Só pra constar.

15 comentários:

Lívio disse...

Gabriela, de fato, o tom do texto é diferente do que você vem publicando por aqui. Mas isso não é ruim. O legal de um blogue é que ele permite variações. E, por fim, o ser lírico não impede o ser mais “cerebral”.

Você menciona a vitalidade a qualquer custo. De fato, isso é algo que assola o mundo. Há toda uma indústria cultural e de cosméticos nos dizendo o tempo todo que os feios não têm vez, que temos de ser bonitos para nos darmos bem etc.

Claro que beleza ajuda, mas ninguém deixa de ser gente porque é feio. Há coisas que não são da beleza do corpo e que são tão importantes (ou até mais importantes) quanto ela.

Com relação ao suicídio, nunca pensei a respeito. Ainda assim, achei graça de como você arrematou seu texto: se no começo você condena a justificativa de que o suicídio deve ser combatido em virtude da dor dos que ficam, no fim, você pede aos que amam você que não se matem – por você. Achei divertido, seu pedido.

Quanto à justificativa de se combater o suicídio porque ele faz mal aos que ficam, parece-me mesmo que isso seria não tocar a ferida. É claro que o suicídio deixa tristes os que ficam, mas se for para combatê-lo, o foco, assim me parece, deve ser não os que ficam, mas os que estão pensando em partir.

Gabriela Maria disse...

Lívio, o q eu quis dizer com vitalidade-a-qualquer-custo é sobre a ideologia de supervalorização da vida. Como citei inclusive o exemplo cristão da ressurreição e bla bla bla.

No caso da metéria a que o texto se refere, o motivo apontado pelos suicidios é uma outra ideologia - a ideologia dos cérebros. As crianças se cobram tanto intelectualmente q não suportam a pressão. E estão pensando exatamente nisso que vc sugeriu - diminuir a pressão no quesito estudos - pra diminuir o problema dos suicídios, com a justificativa de quem está sofrendo por causa deles.

Eu acho q deviamos tentar mudar a ideologia de achar q a morte, seja por suicídio ou não, é tão ruim assim. Isso por si só talvez já mudasse o numero de suicidas. E mesmo quando acontecessem, pq suicídios também são extremamente humanos e nao vao deixar d acontecer, as pessoas talvez receberiam essa dor com menos peso, menos culpa, menos transtorno.

Talvez... nunca se sabe.

As ideologia da beleza, da magreza, a meu ver, são apenas um bode expiatório para todas as outras. A gente vive sob ideologias muito mais veladas, fortes e perigosas do que essas.

Não acredito na possibilidade de nos despirmos de ideologias, construções sociais, mas acredito na possibilidade de trocar de roupas - de preferência pra algumas mais confortáveis.

Anônimo disse...

Eu não vou me matar, fiq tranquila... assim, por enquanto não...

Anônimo disse...

Ah é.. considerando q eu sou uma pessoa q vc ame... se num amar... ignore co comentário anterior.

Anônimo disse...

Um pouco de palavras ao léu (di caprio)

Suicídio é para os fracos, coragem é viver. (frase pronta ¬¬)

Ja morri tantas vezes, que nem sei mais que horas são.

Jesus não foi tão foda assim, existem muitas pessoas que dão duro por aí, acho que só pagam pau pra ele, por que ele transformou água em vinho.


O fato é, que eu não dou muito valor a vida, não ligo de ver pessoas morrendo todos os dias, mas não gosto do sofrimento, talvez por isso que eu goste da morte (talvez ela liberte) sei la, mas foda-se.
Temos bilhões de pessoas, tinham que morrer mais e mais, se alguém quiser se matar, eu forneço a corda (sei que é mentira, eu não teria coragem ...)
Viva o suicídio coletivo \o/

Anônimo disse...

gostei do texto. gosto da morte. nao sei o que seria do mundo sem a morte! e ainda existem cientistas querendo exterminar-la(li isto numa revista) e espero que nao consigam. que sentido teria a vida se nao morressemos? e como diz o Paul: "live and let die"!

abrços,

Dami

Gabriela Maria disse...

tbm acho q só a morte da sentido a vida, dami!
obrigada por continuar me lendo. =)

saudade, rapaz!

Losterh disse...

Bem,

Viva a liberdade. Inclusive a liberdade para morrer.
No mais, desejo a todos uma vida mais doce ou um pouco mais de raça.

Nós somos um quebra-cabeça. Perdeu a peça, procure. Se não achar, faz outra e vamos embora. Mesmo que cheio de deforma.

Anônimo disse...

ms eu acho q eu já nasci faltando peça hein... vou procurar onde?! Fazer como se eu nem sei como é?! Nada é tão fácil qto parece... Nem tão difícil q não deva ser tentado...

Anônimo disse...

Ah, gabi... eu num tenho twitter ms eu sou sua seguidora, viu?!

Anônimo disse...

" Eu sigo você onde você for
Eu preciso de você pra aliviar a minha dor
Já estive aqui e ouço a sua voz
Me dizendo que há um oceano entre nós..."

Extremamente estranha e emotiva...

Gabriela Maria disse...

Obrigada, anônima. =)
Pelas visitas, pelos comentários, pelo carinho.

Nélio Lobo disse...

Bastante interessantes o tópico, Gabi. As dicussões aqui levantadas me fizeram lembrar dos struldbruggs. Já ouviu falar deles?

Abraços.

Gabriela Maria disse...

Que legal, Manoel! Nunca ouvi falar, me deixa aqui um link de referência q vc goste pra eu ler sobre eles =)

Nélio Lobo disse...

Gabi, os struldbruggs são pobres-diabos imortais (literalmente) criados por Swift. Os conheci por indicação do Lívio, por causa de um tópico semelhante a este que postei há alguns anos.

Encontrei este link com o capítulo do livro:

http://cristaldo.blogspot.com/2007/11/struldbruggs-relato-do-capito-lemuel.html

Abraços.