“Julgar-se é levar-se a sério demais. O simples não se questiona tanto assim sobre si mesmo. Porque se aceita como é? Já seria dizer demais. Ele não se aceita nem se recusa. Não se interroga, não se contempla, não se considera. Não se louva nem se despreza. Ele é o que é, simplesmente, sem desvios, sem afetação, ou antes – pois ser lhe parece uma palavra grandiosa demais para tão pequena existência –, faz o que faz, como todos nós, mas não vê nisso matéria para discursos, para comentários, nem mesmo para reflexão. Ele é como os passarinhos de nossas florestas, leve e silencioso sempre, mesmo quando canta, mesmo quando pousa. O real basta ao real, e essa simplicidade é o próprio real. Assim é o simples: um indivíduo real, reduzido à sua expressão mais simples. O canto? O canto, às vezes; o silêncio, mais freqüentemente; a vida, sempre. O simples vive como respira, sem maiores esforços nem glória, sem maiores efeitos nem vergonha. A simplicidade não é uma virtude que se some à existência. É a própria existência, enquanto nada a ela se soma. Por isso é a mais leve das virtudes, a mais transparente e a mais rara. É o contrário da literatura: é a vida sem frases e sem mentiras, sem exagero, sem grandiloqüência. É a vida insignificante, a verdadeira vida." (Comte Sponville)
- É... mas eu acho que a simplicidade é aparência... por dentro é tudo complicado.
- Acho que complica por dentro quando a simplicidade está em excesso por fora. Ou talvez ela fique excessiva por fora quando está complicado por dentro.
- Talvez a simplicidade seja a melhor ponte entre o eu e o outro. Mas é verdade que excessos podem transformar pontes em abismos.
- Talvez a simplicidade seja a melhor ponte entre o eu e o outro. Mas é verdade que excessos podem transformar pontes em abismos.
5 comentários:
Adorei!
Só é simples quem não sabe que é simples, tentar ser simples é muito complicado.
É, concordo, Raul.
Gabriela, é do "Pequeno tratado das grandes virtudes"? (Caso não, leia; é do Comte Sponville também.)
Quanto à simplicidade, penso que a maioria de nós já está conspurcada demais para sê-la.
Lívio, o trecho é desse livro msm.
Quanto à simplicidade, eu diria q a maioria de nós está conspurcada demais pra reconhecê-la em nós mesmos e até nos outros.
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