quarta-feira, 21 de outubro de 2009

SOBRE DIFERENÇAS

Ele se esforça, estuda, lê, calcula, se informa, angustia, produz, se eleva; é admirado, condecorado, aplaudido, retrucado, vez ou outra rejeitado ou reconhecido; e acha que pensar o mundo pautado em grandes nomes - da ciência, da literatura, da música, do cinema - o libertam minimamente da mediocridade, do controle externo, da submissão ao poder, do automatismo.

Ela dança o que tocar na festa e ouve em casa a trilha sonora da novela das oito; aos domingos assiste e se diverte com qualquer coisa transmitida pela TV comum; suas grandes aspirações são um bom salário, boa aparência, bom marido e bons filhos; não se importa muito com cinema; livros, então, não leu mais de cinco; se tem dor, vai ao médico e, se sofre, à igreja; não aborda política, convenções ou ciência; prefere, antes, conversas de salões de beleza e de banheiros femininos.

A despeito de tantos contrastes, ambos estão exaustos e oncológicos, ponderando se têm valido a pena. Cá, entre todos nós, a "grande" diferença são os ídolos.

Somos um bando de Hitlers, disfarçados de Ches.

10 comentários:

Alexandre disse...

O ser diferente faz toda a diferença...
Amei o texto...
SAudades BH

Menos disse...

É. No fundo, se costuramos retalhos, tingimos panos ou brandimos bandeiras, todos acabam na mesma forma.

(Certo, sei que é coincidência, mas me identifiquei, talvez excessivamente, com uma das "personagens"...)

Gabriela Maria disse...

BH (Alexandre), o q eu penso mesmo é q tanto esforço q às vezes fazemos pra sermos diferentes, no final das contas não faz tanta diferença, sabe?! Todos sofremos e temos nossas alegrias, mas a maneiras como nós as vivemos e pensamos (ou não) não nos faz melhores (feliz ou infelizmente?).

Menos, eu tbm me identifico muito com um dos personagens e, talvez, essa seja a inspiração pro texto.

Obrigada pelas visitas e pelos comentários.

Elisa Rodrigues disse...

eu acho que a palavra certa não seria ídolos, mas sim "cu lambidos"

Gabriela Maria disse...

hahahaha

Lívio disse...

Pois é: a exaustão e a descrença não estão atreladas a nível cultural

Gabriela Maria disse...

Acho q, ao nível cultural, hoje, Lívio, estão atreladas essencialmente as idéias de status e de poder - que me parecem tão ilusórias quanto todas as outras idéias, altruístas ou egoístas, que usamos pra justificar e disfarçar as primeiras.

Charlie disse...

Olá, parabens pelo teu blog, te indiquei selos, veja no meu blog

http://alumiina.blogspot.com/

Diogo Rezende disse...

ahhh sua nietszcheanazinha! crepusculo dos ídolos de dentro pra fora de fora pra dentro pra cima pro lado e direto e reto...

mais direto ao ponto impossível...

opa! e by the way... ó meu ídolo aí...

tsc tsc tsc pro nietszche tb...

Gabriela Maria disse...

Diogão, nunca li nada por inteiro de Nietzsche, mas pelo pouco que já li dele, sobre ele e que ja ouvi arespeito dele, me identifico demais. Grande coisa, mas é também um dos meus ídolos. ;)