Ouço as vozes de dentro, vezes paridas: timbres diversos, algumas chamam meu nome em sussurro, enquanto outras tentam sintonizar a freqüência certa pra que eu as entenda. Em vão. Não entendo, tenho apenas medo e sono. Cansaço. Raiva.
A madrugada me atravessa e outro dia me invade com a sensação de nada - nada feito, nada a fazer. Mesmo sabendo ter feito tanto, mesmo ciente de mil pendências. Quero devorar tudo, embora não sinta fome. As roupas ficando pequenas, cheias de nada. Nada a chorar e sorrisos parecem escorrer ralo abaixo como se nada fossem.
Os sorrisos. O tempo, as coisas, os lugares, as pessoas. Um novo livro me bombardeia com suas dores de ausências. Ausências que em mim já não dóem. Assimiladas, vivas, vencidas, hoje jardim. A importância de tudo o que passa e só se legitima importante porque, de alguma maneira, passou. Ausências ilhadas de presente e presenças. Meus braços, por tanto tempo estendidos a um horizonte deserto, tocam agora doce oásis.
Raiva, cansaço, medo e sono são, quem sabe, maneiras quase eficazes de me defender da saúde, da paixão pela vida, de tanta vida. Nada seria tudo, se fosse dor? Se fosse tristeza, tédio, carência, solidão? É isso que o espelho tem mostrado - uma devoradora compulsiva de tudo o que me adoece. Uma devoradora compulsiva de nada. Porque saúde me induz a viver sorrisos, ausências floridas e presenças quentes - que, por suas vezes, impelem-me a gostar de viver. Por menos que eu queira, por menos que eu saiba como.
E as vozes, há tanto tempo distantes, tentando conexão? Não. EU tentando a conexão, EU chamando o medo, as dúvidas, o não entendimento. Eu me enchendo de perguntas, por não suportar viver as respostas.
A agenda cada dia mais cheia de tudo. Um tudo que me recuso a continuar negando. Chega de nada.
2 comentários:
E que seja bem-vindo o tudo, Gabriela.
putz gabi...
vi você me abraçando... e vc estava a meu lado vendo essa cena do abraço.
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