domingo, 6 de março de 2011

À MINHA MÃE

Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo
Tenho medo da vida, minha mãe.
Obrigada por cantares a doce cantiga que cantavas
Quando eu corria doida ao teu regaço
Com medo dos fantasmas do telhado.
Por ninares o meu sono cheio de inquietude
Batendo de levinho no meu braço
Que estou com muito medo, minha mãe.
Por repousares a luz amiga dos teus olhos
Nos meus olhos sem luz e sem repouso
Por dizeres à dor que me espera eternamente
Para ir embora. Por expulsares a angústia imensa
do meu ser que não quer e que não pode
por dares-me um beijo na fronte dolorida
quando ela arde de febre, minha mãe.
Por aninhares-me em teu colo como outrora
e dizeres-me bem baixo assim: — Gabi, não temas
Dorme em sossego, que tua mãe não dorme.
Dorme. Os que de há muito te esperavam
Cansados já se foram para longe.
Perto de ti está tua mãezinha
Teu irmão e teu pai, que os estudos adormeceram
A Futica pisando de levinho
Para não despertar o sono teu.
Dorme, minha filha, dorme no meu peito
Sonha a felicidade. Velo eu.
Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo
Me apavora a renúncia. Continua
- dize que eu fique
Afugenta este espaço que me prende
Afugenta o infinito que me chama
Que eu ainda tenho medo, minha mãe.

(Vinícius de Moraes, adaptado)



"Mãe... São três letras apenas
As desse nome bendito:
Também o Céu tem três letras...
E nelas cabe o infinito.
Para louvar nossa mãe,
Todo o bem que se disse
Nunca há de ser tão grande
Como o bem que ela nos quer...
Palavra tão pequenina,
Bem sabem os lábios meus
Que és do tamanho do Céu
E apenas menor que Deus!"

(Mário Quintana)

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