domingo, 17 de abril de 2011

DE BORBOLETA

Era pra ser tudo tão simples. Nós dois nos encontramos e queremos a mesmíssima coisa: amor, casa e filhos. O amor foi aos primeiros contatos, do mais puro, do mais genuíno e ingênuo. E foi crescendo e crescendo e quase - que se ocupasse espaço concreto - já nem cabia mais aqui. E passamos por tanta coisa, as coisas parecem ficar cada dia mais difíceis, tomando um rumo cada vez mais incerto de como e porquê, mesmo sabendo que por destino, por querermos tanto, de algum modo, um dia faremos - casa e filhos.

Cada instante ao seu lado é um monte de sorrisos paridos em meio a estas lágrimas; é silêncio brotado nesta montanha russa de barulho sem fim; é encontro flertando flagras de olhos que se espreitam dormir; é amor no orgasmo e qualquer tempo é lugar que é tempo de concretizar a urgência. Nunca houve tanta dor, tanta saudade, tanto medo e tanta espera numa urgência. Tanta cumplicidade, tanto cuidado e tanto amor. Tanto tanto. Muito muito.

É um texto em pausas. Porque tudo o que me remete a você é sentimento e eu preciso parar e sentir e transformar em palavras é difícil demais. Talvez por isso eu tenha pedido emprestadas tantas palavras alheias pra lhe presentear de vez em quando. E mesmo assim não são suficientes. Li da Tati Berdardi "fazia tempo que alguém não ficava tão calado enquanto eu apenas existo, fazia tempo que alguém não ficava tão perdido só porque me encontrou", mas eu diria que fazia tempo que alguém não se encontrava em si, toda vez que me encontra. Fazia tempo que eu não me encontrava em mim, toda vez que encontro alguém. Toda vez que encontro você. E a gente fala, fala, tem sempre algo a dizer, mas sempre um dizer silencioso, suave, que é como se se misturasse ao silêncio tão frágil que o mundo só consegue respeitar se calando. E quando nos calamos, tem sempre algo ali, sendo cuidadosamente dito, a beijos de borboleta, e eu queria esses momentos pra sempre.

Eu já disse que eu amo e que espero e que faço o que tiver de fazer pra que os nossos planos um dia se realizem, amor, e pra que nós tenhamos esses nossos momentos sem essa urgência maculada de preocupações, que hoje nos conspurcam a vida. E sei que você não tem feito e nem fará menos. Um dia a gente ainda agarra esse sonho e as nossas preocupações vão ser só com o nosso mundo, e não com os mundos dos outros. Porque, com reciprocidade, eu te amo. Muito muito, tanto tanto.

7 comentários:

Anônimo disse...

Eu achei isso bonito, logo eu, tão fria e sem jeito pra essas coisas... Isso foi bonito.

Gustavo disse...

Gabriela Maria,

Como racionalizar o gosto?

ele é universal e conceitual?
ou
pessoal e subjetivo?
abç kantiano,

gustavo

Lívio disse...

Lírico e terno, Gabriela.

CANTO GERAL DO BRASIL (e outros cantos) disse...

Gabriela,
Gostei de estar-me aqui, de ter-me estado e estarei-me novamente, moça sensível das leituras íntimas de Uberlândia...

Abraço mineiro,
Pedro Ramúcio.

Gabriela Maria disse...

Sejam tdos sempre muito bem-vindos.
Um abraço.

João disse...

minha recente desilusão amorosa acaba me vetando de qualquer sentimento sensível inexplorado nesse momento e quanto ao texto está muito bem articulado. abrçs;

Ismael disse...

Texto muito muito bonito, Gabi.
Abraço.