segunda-feira, 16 de maio de 2011

SABE-SE LÁ

É engraçado como vocês sumiram na hora do maior desespero, na hora do grito mais alto, na hora da corrida mais longa. É interessante como todo mundo ficou mais ocupado, silencioso, como os assuntos em comum não são mais nada comuns, o cotidiano já é coisa desconhecida e a amizade virou item relapso. De fato, quase como disse Pessoa, de todos, restaram uns poucos. Parece que o desespero criou nós nos elos, o grito espalhou medo e a corrida, só por vislumbre, já proferiu cansaço. A história construída antes não foi capaz de deter a lenta e profusa implosão dos vínculos. E eu fiquei aqui, tentando juntar a poeira e montar dela qualquer tipo de mosaico que reconstruísse um texto, uma crônica, uma dignidade de oi, tudo bem com vocês, comigo a vida continua, tombada na falta que vocês têm deixado, ou mesmo um resignado adeus, até mais. Eu não fui embora, só parei para respirar. Profundamente respirar. Mas pensei que o ar era o mesmo que aí. Não era? Na conversa entre os bois, fui eu o que subiu a colina. E, depois da derrocada, cá estou - de patas estendidas - em digno olá; em digno adeus; em digno até.




"Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e dizer uma coisa terrível, mas que tem que ser dita. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e ouvir uma coisa terrível, que tem que ser ouvida.... A vida é incontornável. A gente perde, leva porrada, é passado pra trás, cai. Dói, ai, doi demaais. Mas passa. Está vendo essa dor que agora samba no seu peito de salto agulha? Você ainda vai olhá-la no fundo dos olhos e rir da cara dela. Juro que estou falando a verdade. Eu não minto. Vai passar."
(Caio Fernando Abreu)

2 comentários:

Lívio Soares de Medeiros disse...

Gabriela, seu texto e o de Caio Fernando Abreu se casam.

E ele não mente.

Gabriela Maria disse...

Valeu, Lívio.