domingo, 16 de agosto de 2009

DE ESCREVER CERTO POR LINHAS RETAS

Tudo o que Camila queria era esquecer o amor fugaz, que fez dela a própria euforia durante aqueles cinco dias macios, contados. Contados também os dois meses posteriores que a separaram do definitivo ponto final. Como produto, uma dor vermelha, asfixiante, aguda, já se arrastava por mais insuportáveis dois meses.

Trazido por estes mesmos dois meses, um branco brando par de braços quentes acolheu Camila que, nele, em súplicas, se agarrou forte, implacavelmente. A dor vermelha foi, amparada, desaparecendo... mas ficou por dentro um lago amarelo, profundo de solidão; tanto, tanto medo de se afogar nele! E durante curto tempo – para ela; provavelmente longo e exaustivo para tais braços – tudo o que Camila pôde foi demandar socorro.

Os braços. Brancos, brandos braços. Abraçaram o desespero da moça até se enfraquecerem. Em silêncio ensurdecedor, eles perdiam gradativamente a força e deixavam Camila em fúria inflamável, quase insana. Eles tinham de suportar! Por que se afrouxavam daquela maneira, se ela continuava segurando forte? Tão fracos e tão furiosa, abruptamente soltaram-se.

Camila inevitavelmente se deixou afundar no lago amarelo. E, de lá, por extensos tantos meses, bradou a culpa do maldito par de braços pela indiferença, pela fraqueza, pelo silêncio.

Hoje, plena de saudável respiração, ela se banha nesse mesmo lago íntimo algumas vezes – sem o desespero do afogamento. E tem pedido, em sincero e afável silêncio, perdão. A si mesma e aos brancos solícitos brandos braços por tê-los tão equivocadamente julgado.

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