A madeira sente que cada mudança de estação
traz ou leva consigo um prego.
A cada prego que vai seu respectivo locus fica.
É cômodo e fácil, pois menos doloroso e dolorido,
encarregar o Tempo dos pregos
e dos buraquinhos deixados pelos pregos.
Difícil mesmo é reparar a Porta
sabendo que outros pregos hão de vir e ir.
Porque as estações continuam mudando.
Só que o Tempo não resolve nem pregos,
tampouco buracos: o Tempo habitua a Porta
ao ir e vir das estações, à dança ferrenha e inevitável dos pregos.
A Porta fica, aparentemente, menos dolorida, mais resistente,
porém não menos marcada: buraquinhos aumentam em quantidade,
aumenta a reincidência de pregos nos mesmos buracos.
Mais habituação, mais resistência.
Chega a hora em que, de tantos buracos, a Porta de madeira
- habituada e tão resistente - desaparece.
Sem reparos, sem enfrentamento e sem recomeços,
a Porta nem teve tempo pra se dar conta
de que o Tempo nada resolve.
No fim das contas, o Tempo some com a Porta.
No fim das contas, o Tempo consome a Porta.
Quem é o que sente, quando não sente, deixa de ser.
A Bebel me deixa com cara de pastel
Pastel de vento
Que é pra voar lá longe
Onde a tristeza nunca vai me alcançar.
*Pedro Antônio de Oliveira*
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