Me assalta o remorso de ter e de ser mais do que realmente mereço. Imersa em tanto afeto, tanta verdade, tanta paciência. Será que eles não vêem nem sentem a pequenês deste abraço enfarpado?
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É essa a solidão à qual me refiro, de que ainda não consegui me livrar. A solidão em que desamparo a mim mesma por me sentir desamparar o mundo. A recusa a esta vida que se me brota insuportavelmente bela e quente a cada novo instante.
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E esta exaustão por tanto tudo receber. E receber. Tudo e nada em mim, menos eu. Barriga de aluguel carregando mundos alheios. Uma grande farsa.
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Tudo vem e eu quero desesperadamente que vá. Que eu vá. Ou que eu venha. Mas que EU.
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E de repente entendo a acusação de Fernando Pessoa ao inventor do espelho, de haver envenenado a alma humana. Palavras, de espelho, me algemam e impulsionam este drama. Realidade virtual. É o meu máximo cavando o buraco em que me enterro, em conceitos, em definições mil.
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E eu, que não suporto prisões, escapo. Sou. E eu, que não suporto a fé, enlouquecidamente, tento enquadrar fluidez. Escorro. Eu-água, eu-mundo, lavo espelhos, desafio linguagens. Um espelho, por mais limpo e fiel que esteja, não é o real, embora me pareça, ao real, o possível mínimo acesso.
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Minha caverna platônica tem paredes de espelhos. E é por eles que aqui escorro. Lavo. Não. Seu. Véu. Vão. Som. Léu. Dor. Luz. Céu. Pão. Deus. Chão. Meu. Sim. Eu. Sem. Fim.
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